quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Às vezes também sei ler


As nossas madrugadas

Desperta-me de noite o teu desejo
na vaga dos teus dedos
com que vergas
o sono em que me deito  pois suspeitas
que com ele me visto e me defendo

É raiva
então ciume a tua boca
é dor e não queixume
a tua espada
é rede a tua língua em sua teia
é vício as palavras com que falas

E tomas-me de força não o sendo
e deixo que o meu ventre se trespasse

E queres-me de amor
e dás-me o tempo
a trégua
a entrega
e o disfarce

E lembras os meus ombros docemente
na dobra do lenços que desfazes
na pressa de teres o que só sentes
e possuires de mim o que não sabes

Despertas-me de noite com o teu corpo
tiras-me do sono
onde resvalo
e eu pouco a pouco
vou repelindo a noite
e tu dentro de mim
vais descobrindo vales.

Maria Teresa Horta

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Pensamentos - 34

O absurdo toma conta de mim
Vejo a minha vida como se de outra se trata-se
Nem sequer me dou ao trabalho de julgar
Conheço de cor todas as recriminações

Deixei de lado os preconceitos
Não quero saber de conveniências
Mandei ás urtigas o correcto
Nem sequer me preocupa viver

Vagamente recordo vozes á minha volta
Falam de sonhos, construções
Não fazem parte da minha realidade
Ninguém me vê, mas todos me olham

domingo, 2 de outubro de 2011

Pensamentos - 33

As palavras condicionam.

As palavras que deveriam ser espelhos do sentir
As palavras que deveriam abrir a alma para outro
As palavras que deveriam criar pontes de entendimento

São janelas para um vazio
Armas que ferem profundamente
Labirintos tortuosos